Em Xangai (China), uma das cidades mais populosas do mundo com seus quase 25 bilhões de habitantes, o meio de transporte encontra suas variáveis das mais tradicionais às mais avançadas. A cidade abriga a malha metroviária mais extensa do mundo e permite aos habitantes e turistas um meio rápido de sair do aeroporto internacional de Pudong com o trem Maglev - um sistema de levitação magnética que, de certa forma, é precursor ao que Elon Musk, CEO da Tesla e SpaceX, propõe com o Hyperloop.
Mas na cidade, que cada vez mais se verticaliza - ela também é sede do segundo prédio mais alto do mundo - e a população tende a congestionar o espaço público, afinal é preciso sair de casa, a mobilidade tem sido vista de várias frentes e ângulos, incluindo, o de cima. Vale lembrar que é chinesa a startup Ehang que há dois anos fez manchetes no mundo inteiro ao apresentar um drone supostamente autônomo na CES Las Vegas como um meio de transporte individual possível.
Na última semana, um dos cofundadores da Ehang esteve no palco da CES Asia, em Xangai, ao lado de Evan Tahler, Chief Product Officer da startup Voom e Lu Zhou, do escritório de advocacia Hogan Lovells International LLP, para discutir o que a indústria tem definido como “mobilidade aérea".
Mas se o futuro da mobilidade povoará o horizonte das cidades com hélices e drones - e sabe-se lá mochilas com foguetes - há uma série de desafios e peculiaridades legais que precisam ser levadas em conta.
Helicópteros sob demanda
Lançada em 2017, a Voom é uma espécie de Uber dos helicópteros, entregando um serviço sob demanda para as pessoas, digamos, com mais pressa e dinheiro para se locomover entre pontos na cidade de São Paulo e Cidade do México.
A startup conta com investimento da unidade de inovação da Airbus. Apesar de se basear em um meio de transporte relativamente tradicional, convenhamos, um helicóptero não tem nada de novo, a empresa diz inovar ao propor uma logística mais atualizada com meios digitais e defende que oferece custos mais acessíveis ao compartilhar os trajetos com até cinco pessoas - algo como um UberPool onde as corridas variam de 160 a 240 dólares. Entre as rotas, está a possibilidade de pegar um Voom para o aeroporto de Guarulhos.
Tahler, CPO da Voom, acredita que o trânsito congestionado dos grandes centros, como São Paulo e Xangai, pode se beneficiar de meios de transporte já disponíveis como os helicópteros. Somam-se a eles apps e algoritmos que possam otimizar demandas e rotas.
“Não queremos esperar por novos tipos de veículos para melhorar o trânsito das grandes cidades”, diz o executivo. "Hoje estamos trabalhando com a experiência do cliente, no sentido de entender como eles gostam de voar. Queremos tornar a carona de helicópteros algo acessível e atraente”, completa. É o tipo de teste de logística e resposta que a companhia tem feito para, eventualmente, escalar o serviço para outras cidades.
Mais ágeis e verdes
Grandes métropoles, incluindo as chinesas, têm sofrido com os altos níveis de poluição, logo acrescentar aos seus horizontes frotas de helicópteros ou ainda drones que deixem rastros de gás carbônico poderia prejudicar ainda mais a qualidade do ar e da vida de populações. A boa notícia é que, ao repensar o transporte do futuro, startups de mobilidade estão olhando para soluções verdes. A chinesa Ehang é uma delas.
Com seu drone Ehang 184, a startup defende que seus passageiros poderão chegar de um ponto A ao B a uma velocidade de 130 km/h e o estarão fazendo de uma forma segura e que não poluirá o meio ambiente, tendo em vista que se trata de um veículo elétrico.
A primeira vez que a companhia apresentou seu protótipo funcional foi em 2016 e em fevereiro deste ano exibiu um vídeo onde mostrava o drone sobrevoando uma área rural da China e em condições atmosféricas desafiadoras, colocando o próprio CEO, Huazhi Hu, a teste.
A startup ainda segue testando a tecnologia e o vice-presidente Hunter Zhang não se comprometeu a dar uma data de lançamento do serviço, dado o fato de que há uma série de desafios, incluindo uma regulação que permita drones sem pilotos transportar civis.
Segundo Zhang, ao tirar pilotos da equação da Ehang, a companhia conseguiria ofertar um meio de transporte mais acessível. "Queremos que a possibilidade de voar chegue a todos e não seja apenas exclusiva a alguns", ressalta Zhang. Uma vez que um passageiro entre em um Ehang 184, bastaria colocar seu endereço final em um aplicativo como o Google Maps e, solitário, ele seguiria até o seu destino. A companhia agora se debruça para evoluir um sistema de gerenciamento de seus drones para atender a demanda futura de passageiros.
Regulação e segurança
No final do dia, há ainda um longo caminho regulatório para se alinhar a uma realidade que parece ter saído de “Os Jetsons”, apesar da tecnologia evoluir antes que o arcabouço legal que dará conta dela. Mas segundo Lu Zhou, da Hogan Lovells International LLP, o governo chinês tem se mostrado receptivo e avançado para acompanhar a tecnologia e a regulação de drones no país tem sido mais avançada que os Estados Unidos. “Acho que temos grande potencial para a tecnologia aqui”, diz a advogada.
“A segurança é o fator mais importante que governos se preocupam na hora de criar políticas e, segundo, barulho e depois privacidade”, ressalta. Afinal, a ideia de drones se levantando entre prédios tendem a perturbar a esfera da vida privada das pessoas.
Para Tahler, da Voom, participar das conversas sobre regulação é importante, uma vez que elas também devem pautar e influenciar o modelo de negócios e o próprio desenho dos veículos.
Para Zhang, da Ehang, há que se lembrar que para toda tecnologia que chega no mercado, sempre há três estágios. O primeiro deles diz respeito a evolução da própria tecnologia, o segundo sobre a regulação e, por último, a educação do mercado.
"Já estamos no primeiro estágio e conversando sobre o segundo. Como toda nova tecnologia, o modelo de negócios não é aceito imediatamente pelo público. Lembre-se que carros e aviões também foram questionados. O público geral ainda tem preocupações, mas acredito que a medida que regularmos a tecnologia, a população vai aceitar", diz o cofundador da Ehang, que prometeu que seu drone ainda fará um voo fora da China este ano.
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