O Mobilize participou ontem (24) do Simpósio Diversidade e Mobilidade Urbana, evento organizado pela Câmara Brasil Alemanha. Na pauta, a acessibilidade no transporte público e nas ruas das cidades.
De manhã, segui para o local do simpósio, na zona sul da cidade, com uma combinação de caminhada, metrô e trem urbano, tudo alimentado por eletricidade e arroz com feijão. Cheguei no horário, sem enfrentar congestionamentos ou lançar poluentes na atmosfera já carregada da cidade. Calçadas e sua manutenção ganharam destaque nos debates e permitiram saber que a Prefeitura de São Paulo está preparando nova legislação e um plano para atacar esse grave problema. Vamos acompanhar.
Mas, como alguns dos participantes se atrasaram, o assunto da falta de gasolina para os carros e de diesel para os ônibus foi inevitável. Lembramos que já temos, há muitos anos, fabricantes de ônibus elétricos, os tradicionais trólebus, e mais recentemente de ônibus elétricos a bateria. Lembramos ainda que há 50 anos várias cidades do país dispunham de redes de bondes elétricos: havia cerca de 1.000 km de trilhos e linhas de alimentação desses VLTs primitivos.
Ônibus, barcos e VLTs podem também receber alimentação com gás natural, tal como o BRT de Cartagena, na Colômbia: o insumo chega às garagens pelos dutos, 24 horas por dia, sem interrupções. E o Brasil, ao menos em várias grandes capitais, já tem redes de gás e tem capacidade de produzir motores e plataformas de ônibus movidos a gás natural veicular (GNV). Mas, por vários motivos, ficamos com o diesel, tanto no transporte urbano como na logística para a entrega dos outros combustíveis nas cidades.
Ante a greve (ou lockout) dos caminhoneiros e a paralisação parcial dos ônibus urbanos, governantes e formadores de opinião poderiam aproveitar a crise e apontar as alternativas mais sustentáveis de mobilidade, como a bicicleta, o caminhar, a carona. Ao contrário, em cidades como São Paulo, suspendeu-se o rodízio de placas, permitindo que todos saíssem às ruas com seus carros. Resultado: grandes congestionamentos, mais poluentes no ar e a constatação de que a gasolina está acabando.
Já passou da hora de o país adotar uma política de migração gradativa do transporte de cargas para novos ramais ferroviários e barcas, nos rios, lagos e baías de seu território. Claro que isso não se faz da noite para o dia, mas um projeto de transição, ao longo de 20 ou 30 anos, seria possível e serviria como matriz para o redesenho da economia nacional, incluindo a indústria, a área de infraestrutura e o setor energético.
Nessa linha, uma boa novidade foi anunciada nesta semana pela fabricante de veículos elétricos BYD: em Indaiatuba (SP), uma empresa de saneamento de acaba de receber os primeiros 20 caminhões elétricos de um total de 200 que adquiriu para sua frota de transporte de resíduos.
Outra pequena boa notícia veio do sistema de bicicletas operado pela empresa tembici: em função da crise nos transportes, até o dia 31 de maio as bicicletas compartilhadas poderão ser usadas com um custo simbólico de 10 centavos por dia. É uma pena que as 80 mil bicicletas dockless (sem estações) previstas para entrar em operação em São Paulo entre junho e julho ainda não tenham chegado.
Enquanto isso, vamos respirando fumaça, como lembraram os participantes de uma audiência do Ministério Público Federal realizada ontem (24) em São Paulo. Promotores, pesquisadores e ativistas reuniram-se para discutir a revisão que o Conama propôs nos limites da poluição atmosférica para padrões abaixo do que é exigido hoje. O problema, mostraram os vários especialistas, é que a revisão vai piorar (e muito) a condição do ar. Alguém aí de Brasília pode explicar?
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