Nesta segunda-feira (5), Abigail Blumenstein, de 4 anos, e Josh Lew, de 1 ano, foram atingidos e mortos por um carro fora de controle enquanto cruzavam com seus pais uma rua do Brooklyn, em Nova York.
O motorista, que a polícia crê ter tido um mal súbito, atravessou o farol vermelho antes de atingir as crianças, segundo informou a emissora NBC New York. Detalhe: esse mesmo motorista recebeu, desde 2006, quatro intimações por cruzar no vermelho e mais quatro, por ultrapassar a velocidade permitida em área escolar, apurou a organização social Staten Island Live.
O incidente revela uma tendência preocupante na segurança viária dos estados norte-americanos nos últimos anos: após décadas de declínio na taxa de acidentes fatais, os números cresceram nos últimos anos.
A tendência é particularmente alta para mortes de pedestres: em 2016, ano mais recente dos dados do Departamento de Transporte governamental, cerca de 6 mil pedestres foram atingidos e mortos por veículos em via pública.
Esse número revela um alarmante aumento nos acidentes, que já em 2009 foi de 46%, com 4.109 mortes de pedestres. Em 2016, o número de fatalidades envolvendo pedestres (em números absolutos) foi o maior até agora, desde 1990. Em números relativos, considerando o crescimento populacional, a taxa de mortes de pedestres por 100 mil pessoas nos EUA em 2016 foi a mais alta desde 1998.
Causas
Especialistas apontam diversos fatores por trás desse aumento. No mês passado, a Governors Highway Safety Association (GHSA) divulgou relatório analisando que o aumento das mortes de pedestres pode estar relacionado ao uso cada vez maior de smartphones. Embora a condução distraída do veículo não esteja entre as mais relacionadas aos acidentes fatais, o uso de smartphones também pode afetar os pedestres, tornando-os menos conscientes do seu entorno.
Outro fator que pode estar levando ao aumento nos acidentes é o uso de drogas, especificamente a maconha, alerta o GHSA. Segundo a entidade, no primeiro semestre de 2017 as mortes de pedestres aumentaram em estados que votaram anteriormente a legalização da maconha recreativa. Como os smartphones, a maconha pode prejudicar os motoristas e os pedestres, acredita a entidade. Mas ao observar os dados estaduais de todo o ano de 2016, não se verifica uma correlação clara entre a legalidade da maconha e as mortes de pedestres. Os estados da metade sul do país geralmente têm taxas mais altas de mortes de pedestres do que os estados do norte, onde a erva é mais legalizada.
O álcool é outro fator reconhecido nas mortes de pedestres. Segundo dados da National Highway Traffic Safety Administration, 18% dos motoristas envolvidos em acidentes fatais com pedestres apresentaram teste positivo para o álcool. Já entre os pedestres envolvidos nestes acidentes, esse número é de 38% dos casos. Em outras palavras, quando um motorista atinge e mata um pedestre, o mais provável é que o pedestre tenha sido quem estava sob efeito do álcool.
O Smart Growth America, grupo ativista que luta pela mobilidade nas cidades, apresenta outros parâmentros de investigação sobre os riscos do pedestre no trânsito, relacionados à condição social dos envolvidos. O índice de periculosidade adotado pelo Smart Growth America leva em conta fatores de renda e taxas de seguro de saúde: as áreas metropolitanas mais pobres, ou que têm mais pessoas não seguradas, tendem a apresentar mais mortes de pedestres, diz o grupo.
Segundo este critério, cidades que têm menor arrecadação em geral dispõem de menos recursos para investir em projetos de vias seguras e acessíveis. E essa falha no desenho urbano parece levar a acidentes com mais mortes de pedestres.
A velocidade dos veículos também é um dado a influir nas taxas de acidentes de pedestres, afirmam os estudos. Em velocidade mais alta, é menor a chance de sobrevivência de pedestres atingidos nos atropelamentos. Foi ao considerar estes índices, que a cidade de Nova York reduziu seu limite médio de velocidade, de 30 a 25 mph (aproximadamente, de 50 a 40 km/h) em 2014. Esse programa parece estar na linha correta: em 2017, o número de pedestres mortos em acidentes de trânsito na cidade de Nova York caiu para o seu nível mais baixo, desde 1910 .
*Traduzido por Regina Rocha/ Mobilize Brasil
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