Qual modelo de transporte queremos afinal para nossas cidades?

A mobilidade urbana é um tema em involução. E o transporte coletivo expõe a gravidade desse problema, avalia em artigo colaborador do Mobilize em Campina Grande (PB)

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Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Josinaldo Neves*  |  Postado em: 20 de fevereiro de 2018

No Brasil, pouco se faz para melhorar o transporte

No Brasil, pouco se faz para melhorar o transporte público

créditos: Portal Ônibus da Paraíba

O termo 'mobilidade urbana' parece vir perdendo força no Brasil... Durante décadas esse tema foi esquecido, porém entrou em alta, passando alguns anos (talvez uma década) no centro das principais discussões dos poderes públicos em suas três esferas de governo. 

 

Nesse período, o planejamento, os investimentos e a execução de obras de infraestrutura melhoraram e amenizaram os problemas que se acumularam e que começaram a aparecer na forma de engarrafamentos, congestionamentos e retenções veiculares nas cidades de grande e médio portes. Mas, de uma hora para outra, agora tudo parece voltar à estaca zero, fato altamente preocupante.


A conjuntura da política econômica brasileira continua cada vez mais desfavorável ao transporte público de passageiros – uma das forças motoras do desenvolvimento do país.

O Brasil anda mesmo na contramão dos países desenvolvidos, onde o custo é elevado para quem utiliza o carro particular, como forma de subsidiar parte dos gastos com o transporte coletivo. 

 

Por aqui, se faz exatamente o contrário: barateamos a manutenção do veículo individual, oferecemos incentivos fiscais para sua aquisição e nos esforçamos ao máximo para dar trafegabilidade aos carros em nossas cidades. Já para o transporte coletivo, elevam-se os custos da manutenção e, salvo honrosas exceções, pouco se faz para implantar faixas exclusivas e corredores de ônibus; e nem se fala em sistemas sobre trilhos, como os trens, metrôs e VLTs. 

 

Campina Grande

Após estas argumentações, observo com extrema preocupação as estatísticas que mostram a perda significativa de passageiros em Campina Grande (Paraíba), realidade enfrentada pelos consórcios operadores do transporte coletivo de passageiros na cidade. 

 

Uma série de fatores vem há muito tempo contribuindo para isso, e um deles, talvez o mais expressivo, é o transporte clandestino, que não recolhe impostos, não garante as gratuidades para quem tem direito e nem a meia passagem para os estudantes. Apesar disso, o tal transporte concorre em pé de igualdade com o regular de passageiros. 

 

É bom que se diga também, já que muita gente talvez não saiba: o ônibus transporta 70% da população e ocupa 30% do espaço urbano, enquanto o transporte individual ocupa 70% do espaço das cidades levando apenas 30% de seus habitantes.

Dura realidade de um país onde sua elite acha que ‘coletivo’ é sinônimo de pobreza. Por se pensar desta forma, infelizmente estamos involuindo, e os problemas que aos poucos parece seriam resolvidos, novamente começam a mostrar força. 

 

E as consequências? Elas também se apresentam e nossa “progressista” classe média, juntamente com nossos ricos, vai ficando parada em ruas abarrotadas de potentes e bonitos veículos que, por não ter espaço, não desenvolvem a sonhada e confortável mobilidade. Mobilidade que aos poucos vai sendo substituída por perda de tempo, de dinheiro, e estresse, a doença da moda e da atualidade. 

 

Ainda está em tempo de se fazer a escolha - vamos decidir se queremos uma cidade cada vez mais travada e ocupada por carros ou se a queremos para as pessoas. 

 

A escolha também é nossa, afinal, queremos um transporte coletivo que funcione com efetividade ou um transporte que cada vez mais desordena o já confuso trânsito? Os gestores vão seguir a lógica que vem de longas datas com os alinhavos e acomodações políticas ou vão seguir os planos de mobilidade feitos por técnicos especialistas em trânsito, transporte, acessibilidade? Inquietações que precisam de respostas urgentes, para, dependendo delas, vermos o modelo de transporte e de mobilidade que queremos.

 

*Josinaldo Neves é jornalista, repórter e um dos apresentadores do programa Cidade Viva da 101 FM, de Campina Grande (PB)

 

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