O TransMilenio, 17 anos depois

Sistema de BRT na Colômbia ainda funciona, mas está saturado e é questionado por parte da população de Bogotá

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Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Marcos de Sousa/ Mobilize Brasil  |  Postado em: 17 de janeiro de 2018

Longas filas são cada vez mais comuns no TransMile

Longas filas são cada vez mais comuns no TransMilenio

créditos: Juan M. Suárez/Bogotá

A equipe do Mobilize foi checar in loco como anda o famoso sistema de ônibus da capital colombiana, que tem 17 anos. Apesar dos problemas de manutenção, o "transmi-lleno" (como brincam os bogotanos) funciona bem, é rápido, mas um pouco desconfortável e confuso. E lota nos horários de pico. Em breve Bogotá terá também seu metrô, prometem as autoridades

Um dos mais famosos BRTs do mundo, o TransMilenio significou um grande avanço no transporte urbano de Bogotá, a capital da Colômbia. Afinal, com 8 milhões de habitantes, até o ano 2000 a cidade contava somente com os ônibus comuns e micro-ônibus, ambos reféns dos grandes congestionamentos (trancones) que paralisam os bogotanos nos horários de pico.

Como alternativa, as pessoas utilizavam - e ainda usam de forma muito intensa - suas bicicletas e motos para fazer os trajetos diários a seus locais de trabalho e estudo. Mas, pedalar no trânsito cotidiano de Bogotá, com seus caminhões e ônibus fumacentos, e enfrentar o frio do inverno, é tarefa dura.

Assim, rapidamente, o TransMilenio passou a ser o principal sistema de mobilidade na cidade e logo recebeu o apelido de "transmi-lleno", já que sempre está lotado, especialmente nas linhas que seguem para a zona sul, a mais populosa. Apesar das dificuldades, os ônibus (muitos deles produzidos por empresas brasileiras) circulam mais rapidamente pelas pistas duplas e trechos subterrâneos, o que explica a preferência dos usuários.

Não é muito confortável, pois não há ar-condicionado e os carros chacoalham bastante, o que dificulta o tráfego de pessoas com deficiência e idosos. Entrar no ônibus é tarefa dura, para valentes. Mas é relativamente rápido: em poucos minutos, via corredores segregados, chega-se ao destino ou a alguma estação de transbordo. 


Mapa do sistema
 e foto na av. das Américas, em horário fora do pico

 

Bicicletário no interior de estação: segurança na integração Foto: Mobilize


Tarifa: pouco menos de R$ 2,50

Usar o TransMilenio não é tarefa fácil e exige um certo traquejo, bastante semelhante ao do metrô de Nova York. Explica-se: nem todas as linhas param em todas as estações, o que pode surpreender um turista desavisado. Durante nossa estada por lá acabamos conhecendo bairros não programados, simplesmente porque os velozes ônibus articulados não param em qualquer lugar... 

O sistema funciona de forma integrada, com um cartão que pode ser carregado em todas as estações do TransMilenio. A passagem básica para as linhas Troncais custa 2.200 pesos colombianos, ou cerca de R$ 2,50. Com o cartão devidamente carregado, basta passar pelas catracas e dirigir-se à porta de embarque da linha selecionada. 

Como em qualquer lugar do mundo, há também alguns passageiros que se negam a pagar a passagem e arriscam a vida para cruzar as pistas e pular para a plataforma pelas portas de acesso aos ônibus. Essas portas, que são automáticas, somente deveriam ser abertas após a chegada dos veículos, mas na prática permanecem abertas todo o tempo por falta de manutenção. Um sinal claro de degradação do sistema.

Esgotamento
"No al proyecto de Troncal de @TransMilenio sobre la Carrera 7!" é a mensagem que se lê em alguns edifícios no bairro Chapinero, zona norte da cidade. As faixas manifestam o desagrado dos moradores ao projeto da prefeitura de implantar um corredor de ônibus na avenida, que já tem um tráfego intenso, inclusive com ônibus de grande porte do próprio sistema integrado.

A campanha argumenta que o TransMilenio não se mostrou um sistema de transporte adequado para a capital colombiana e que gerou novos "problemas de mobilidade, saúde, ambiente e também ao patrimônio histórico da cidade". O excesso de ruído, a poluição atmosférica e as desapropriações e demolições necessárias para a construção das largas pistas do BRT são rechaçados pelos moradores, a partir da experiência em outros locais de Bogotá ao longo dos 17 anos do sistema. Um abaixo-assinado lista os problemas e sugere que Bogotá adote "alternativas mais sustentáveis e de baixo impacto ao meio ambiente". 

Ônibus emite fumaça preta ao passar na área de Las Águas Foto: Mike


Usuários arriscam-se para ingressar sem pagar pela plataforma Foto: El Tiempo


A prefeitura argumenta que a nova infraestrutura irá melhorar a condição ambiental da região, já que o tráfego de coletivos seria reduzido dos atuais 300 ônibus para cerca de 120 por hora. Lembra, ainda, que a capacidade de transporte subiria dos atuais 18 mil para 24 mil passageiros por hora/sentido. Promete também que a nova linha terá motorização de tecnologia avançada, com poluição zero. Mas os moradores contra-argumentam que a obra irá degradar e desvalorizar o entorno da avenida. 

Metrô, o novo desafio
Em paralelo, as autoridades locais prometem realizar neste primeiro semestre de 2018 a licitação para o projeto e obras da primeira linha do metrô de Bogotá, que terá 24 km de extensão e 15 estações, várias delas integradas com as linhas troncais do TransMilenio. Por motivos geológicos - Bogotá está sobre um antigo lago aterrado - toda a estrutura da obra será elevada, o que deverá reduzir o custo por quilômetro do empreendimento.  

Veja mais imagens do TransMilenio

Veja também o vídeo que tenta explicar porque o sistema entrou em colapso


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