Uma região ainda isolada na mobilidade urbana do Recife

Santo Amaro, área central do Recife, está fora dos planos de ampliação do transporte público a curto ou médio prazo, diz o órgão controlador do sistema de ônibus na RM

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Fonte: JC Online/De Olho no Trânsito  |  Autor: Roberta Soares  |  Postado em: 16 de outubro de 2017

Não há planos de mais ônibus entre Av. Mário Melo

Não há planos de mais ônibus entre Av. Mário Melo e Norte

créditos: Reprodução

Trabalhar, viver ou frequentar o bairro de Santo Amaro, na região compreendida entre a Rua Princesa Isabel, Avenidas Mário Melo e Norte, na área central do Recife, é viver no isolamento. Principalmente quando o olhar é sobre a mobilidade urbana. Chegar e sair da região sem utilizar o automóvel é tarefa árdua, que exige disposição física para caminhar e coragem diante da insegurança – assaltos têm sido frequentes.

Mesmo sendo uma das principais apostas do adensamento urbano, tanto do governo municipal como do mercado imobiliário, a região conta com poucos ônibus, é degradada e pouco iluminada.

Quem sai do Norte da Região Metropolitana e de parte da Zona Norte da capital é bem atendido, com opção de embarque e desembarque na Avenida Cruz Cabugá. Mas aqueles que saem da região Sul do Grande Recife e da capital, assim como os que vêm da Zona Oeste, andam, em média, de quatro a seis quarteirões para acessar um ônibus. Ou pagam duas passagens. Apesar dessas dificuldades, um aviso: não há qualquer previsão de ampliação da oferta de transporte público a curto ou médio prazo para a área.

A afirmação foi dada, sem rodeios, pelo homem que planeja o transporte público por ônibus de toda a Região Metropolitana, Alfredo Bandeira, diretor de Planejamento do Grande Recife Consórcio de Transporte (GRCT), órgão gestor do sistema. A razão: não há demanda de passageiros que justifique mexer no que está quieto e que, na avaliação dos gestores, funciona bem. “A região pode estar crescendo e ter como perspectiva um crescimento ainda maior. Mas até hoje, não identificamos demanda que mereça ampliar o serviço na área. O transporte não gera demanda. Ele chega depois, quando ela já existe”, afirma.

O GRCT usa como parâmetro para a ausência de demanda a falta de reclamação dos usuários. “Se faltasse transporte, se houvesse um vácuo, a população estaria reclamando e pedindo mais transporte. Quando e se essa demanda acontecer, aí nós iremos ofertar. Por enquanto, nossa estrutura de transporte está embasada nos corredores do SEI na região, que são as Avenidas Cruz Cabugá e Norte, além da Conde da Boa Vista, para onde a maioria deseja ir”, diz Bandeira.

Integração
Germano Travassos, consultor em transporte, concorda em parte com o GRCT. Defende que, de fato, não é possível, sem uma demanda de passageiros que justifique, criar linhas ou prolongar rotas de ônibus para atender à região entre a Mário Melo e a Avenida Norte. Mas defende que outras ferramentas podem e devem ser usadas. A integração temporal (quando é possível integrar transportes diferentes sem necessidade de espaço físico e por um determinado período) é a aposta. “É claro que ela precisa ser criteriosa, mas é a solução. E o ideal seria promover essa integração com as linhas circulares. Integrar os BRTs, por exemplo, a elas. Seria uma opção para ampliar o serviço na região”, sugere.

Quem aposta em Santo Amaro como opção imobiliária, como é o caso da incorporadora Moura Dubeux, entende que a demanda de passageiros chegará em breve e, a partir dela, a oferta de transporte terá que ser maior. A construtora construiu dois empreendimentos residenciais com quase mil unidades e planeja mais um entre a Mário Melo e a Cruz Cabugá. “Essa é uma área vital para a cidade por estar perto de Olinda, da Zona Sul, do Centro e do Bairro do Recife. O processo de desenvolvimento está um pouco atrasado, mas acontecerá”, afirma Homero Moutinho, diretor da Moura Dubeux.

O atraso a que se refere o empresário é em relação à definição, pela Prefeitura do Recife, dos parâmetros urbanísticos para Santo Amaro. Na gestão do PT, esses parâmetros foram definidos, mas a gestão PSB decidiu revê-los e o prazo para conclusão é no fim de 2018. “Houve um estímulo muito grande à construção, mas apenas residencial. Percebemos que estávamos correndo o risco de criar bairros sem vida, onde as pessoas iriam se trancar em casa e só sair de carro. Defendemos o uso misto dos imóveis para que haja estímulo ao comércio e, consequentemente, à circulação de pessoas. E quando isso acontecer, sem dúvida a oferta de transporte público terá que ser revista. Teremos que acabar com essa concentração de linhas de ônibus na Avenida Conde da Boa Vista, por exemplo”, diz o secretário de Planejamento do Recife, Antônio Alexandre.

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