Nesta Semana da Mobilidade o Mobilize Brasil completa seis anos de atividades. Concebido e dirigido por Ricky Ribeiro, o Mobilize começou a ser estruturado no final de 2010, mas somente em setembro do ano seguinte, exatamente nas vésperas do Dia Mundial Sem Carro, o portal nasceu para o público com o lançamento do Estudo 2011. Para marcar a data, publicamos a visão de alguns colaboradores e ativistas sobre os avanços (ou retrocessos) obtidos pelo Brasil na área de Mobilidade Urbana Sustentável ao longo desses 2.200 dias. Seguimos a série com o texto de Meli Malatesta, do blog Pé de Igualdade.
"Nos últimos anos, finalmente, as políticas públicas de mobilidade urbana têm abandonado o foco do transporte motorizado individual, da fluidez e da velocidade. E começam a nascer leis sintonizadas com a sustentabilidade e a inclusão social.
A primeira delas, a Lei Federal da Mobilidade Urbana, prioriza o transporte público coletivo - e de carga - sobre os modos individuais, carro e moto. E mesmo que de forma genérica e pouco clara, prioriza os “modos não-motorizados” sobre todos os demais. A Política Nacional de Mobilidade Urbana estabelecida por esta lei obriga os municípios com mais de 20 mil habitantes a apresentarem planos de mobilidade se quiserem obter recursos do governo federal para seus projetos de transportes.
A denominação “não-motorizado” mistura no mesmo balaio a mobilidade a pé e a cicloviária e faz com que a caminhada continue esquecida como modo de transporte. E assim, muitas cidades investem em redes cicloviárias robustas e vistosas, mas ignoram completamente suas redes de calçadas.
Calçadas são a infraestrutura de mobilidade urbana mais utilizada no país, já que 36% das viagens diárias nas cidades brasileiras são feitas exclusivamente a pé, segundo levantamentos da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP). Apesar dessa relevância, elas continuam sendo construídas e mantidas de forma precária. Isso quando existem.
Em sintonia com esse movimento, outra política pública que vem ganhando voz e espaço é a da inclusão e da acessibilidade, especialmente com a Lei Brasileira da Inclusão, que entre suas diretrizes obriga as autoridades a construir e manter a infraestrutura para a circulação de pessoas com mobilidade reduzida em todas as cidades do país: calçadas, rampas e sinalização adequada. Enfim, o que é bom para cadeirantes, cegos e idosos é bom para todas as pessoas.
Assim, como reação da sociedade civil organizada, e inspirado no cicloativismo, surge o “ped_ativismo” cada vez mais numeroso e atuante. Porque todos somos pedestres."
*Meli Malatesta é arquiteta, especialista em mobilidade ativa e blogueira do Pé de Igualdade
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