Britânicos querem fim de carros novos a diesel e gasolina até 2040

Objetivo é reduzir emissões de gases-estufa e combater mudanças climáticas. Mudança é positiva, mas pouco ambiciosa no prazo, dizem especialistas

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Fonte: Folha de S. Paulo/ NYT  |  Autor: The New York Times  |  Postado em: 28 de agosto de 2017

Londres, que enfrenta níveis de poluição do ar pre

Londres, que enfrenta níveis de poluição do ar preocupantes

créditos: The British Lung Foundation

Em busca de formas para combater a crescente poluição, a Grã-Bretanha anunciou na última quarta-feira (26) o fim das vendas de carros a diesel e gasolina até 2040.

O plano britânico se assemelha ao francês, anunciado também neste mês. Ambos fazem parte de um crescente esforço mundial para, a partir de carros elétricos, reduzir as emissões de gases-estufa e combater as mudanças climáticas.

Além dos governos, montadoras também estão fazendo ajustes nessa direção. A Volvo declarou recentemente que, nos próximos anos, encerrará a produção de motores de combustão interna. Enquanto isso, a BMW está construindo uma versão elétrica do Mini, um popular carro de sua linha.

As notícias podem parecer boas, mas a transição para os carros elétricos será gradual e a iniciativa britânica é menos ambiciosa do que outras vistas pelo mundo. Soma-se a esse quadro a decisão de Donald Trump de retirar os EUA do Acordo de Paris.

Transporte público
O governo britânico, como parte de seu plano de ação para reduzir a poluição atmosférica, afirma que vai disponibilizar US$ 332 milhões às administrações locais para ações de curto prazo, como melhoramentos em ônibus.

"É importante nos prepararmos para alterações significativas, relacionadas não só aos problemas de saúde causados pelas emissões, mas também aos maiores, como a aceleração das mudanças climáticas", afirmou Michael Gove, secretário britânico do ambiente.

Chris Grayling, secretário de transportes da Grã-Bretanha, prometeu uma "revolução verde nos transportes" e afirmou que o governo quer que, até 2050, quase todos os carros em vias britânicas não emitam gases-estufa.

Na França, a promessa de encerrar as vendas de carros comuns foi feita como uma emenda ao compromisso firmado no Acordo de Paris.

A Grã-Bretanha –também parte do acordo para conter as mudanças climáticas– principalmente em suas maiores cidades, como Londres, tem enfrentado preocupantes níveis de poluição atmosférica.

Estima-se que a qualidade ruim do ar, em parte resultado da poluição produzida pelos carros, cause entre 23 mil e 40 mil mortes por ano na Grã-Bretanha.

Críticas
Frederik Dahlmann, professor assistente na Warwick Business School, descreveu o anúncio como um passo importante para se chegar a um objetivo futuro. Segundo ele, isso também "incentiva os compradores a considerar outras opções de motor ao comprar seu carro".

Contudo, Dahlmann afirma que o anúncio deixa uma pergunta no ar: "Como o governo pretende, no curto prazo, melhorar a qualidade do ar e reduzir as emissões relacionadas ao transporte?"

Os críticos, como Ed Miliband, ex-secretário do ambiente, afirmam que o governo é falho no combate à crise da poluição.

No twitter, Miliband diz temer que "a nova proibição, para daqui 23 anos, a carros movidos a petróleo e diesel seja uma cortina de fumaça para fracas medidas de combate às 40 mil mortes anuais por poluição do ar".

Outras críticas afirmam que as ações do governo não são agressivas o suficiente –a França também colocou 2040 como objetivo, mas a Noruega pretende começar a vender somente carros elétricos em 2025; o plano da Índia é conseguir isso em 2030.

Tipicamente, os carros possuem vida útil de cerca de 15 anos. Dessa forma, mesmo que a Grã-Bretanha cumpra seu objetivo, os motores tradicionais devem continuar rodando no país mais de uma década após 2040.

Mesmo assim, a decisão britânica é a mais recente indicação de como os governos e a opinião pública passaram a se posicionar contrariamente ao diesel e aos motores de combustão interna.

Enquanto isso, as montadoras, mesmo relutantes em abandonar algo que as serviu tão bem por mais de um século, estão começando a aceitar o fim dos motores movidos a combustíveis fósseis.

Os investimentos dessas empresas em carros à bateria têm crescido fortemente, junto à percepção de que os carros tradicionais estão sob ameaça da Tesla e de companhias chinesas, as quais possuem mais experiência em tecnologias de carros elétricos.

Fim do diesel 
A crescente preocupação com os malefícios à saúde causados pelo diesel é a responsável por essas mudanças de posição.

Madrid, na Espanha, Munique e Stuttgart, na Alemanha, já consideram possíveis proibições ao diesel. As vendas de carros a diesel está em queda. Líderes políticos estão sob pressão para colocar fim aos subsídios ao diesel.

Os países europeus estipularam menores taxas ao diesel do que à gasolina com a crença de que isso seria melhor para o planeta. De fato, motores a diesel lançam no ar menos dióxido de carbono. Eles produzem, porém, mais óxidos de nitrogênio –família de gases que causa asma e é responsável pelo smog (névoa tóxica), que, em algumas ocasiões, cobre Londres e outras grandes cidades.

Elétricos
Ao invés de incentivar a migração para carros à gasolina, os governos e montadoras se focam nos carros elétricos, os únicos que não emitem óxidos de nitrogênio e dióxido de carbono.

Essa guinada, contudo, tem levantado dúvidas sobre a capacidade dos países de produzir a energia e infraestrutura necessários para a concretização da mudança radical no modo de se locomover das pessoas.

Jack Cousens, porta-voz de uma das principais associações automotivas britânicas, a AA, afirma que será necessário um significativo investimento para instalar pontos de recarga de carros pelo país, especialmente para recarregamentos rápidos. Cousens diz ainda ter dúvidas se a rede elétrica conseguiria suportar um massivo número de recargas simultâneas após um horário de pico no trânsito. 

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