Foi publicado hoje (24) o inventário do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) que mostra a produção dos poluentes gerados por carros, motos e ônibus na cidade de São Paulo. O coração do trabalho é um gráfico interativo que permite checar a emissão de cada tipo de poluente conforme o tipo de veículo, combustível usado, local e horário das medições.
O mapa mostra claramente que são os automóveis e motos os maiores geradores de poluentes, em especial nas regiões próximas às grandes avenidas. E indica que empresas, governos e população precisam iniciar já a mudança nos padrões de transporte urbano e trocar o carro por caminhadas, bicicletas e transporte público.
O estudo, disponível na plataforma http://emissoes.energiaeambiente.org.br, indica que os automóveis são responsáveis por 72,6% das emissões de GEE e respondem por 88% dos quilômetros rodados por veículos. Aproximadamente 30% das pessoas se deslocam de carro e moto, 30% a pé e 40% de transporte público (ônibus, metrô e trem), segundo a pesquisa Origem e Destino 2012. "O combate à poluição atmosférica e a redução de emissões de GEE passam pela necessidade de esclarecer que o transporte público não é o principal vilão na emissão de poluentes. É preciso buscar soluções que desestimulem o uso do transporte individual motorizado. Isso inclui melhorias de infraestrutura e de tecnologia do transporte público, bem como incentivos aos modos ativos, para aumentar as viagens a pé e de bicicleta", afirma André Luís Ferreira, diretor-presidente do Iema.
O inventário de emissões orienta as escolhas por meios mais adequados de se locomover na cidade, a melhoria tecnológica dos veículos e o uso consciente dos automóveis. “Material particulado e ozônio são os poluentes mais críticos em São Paulo, e o inventário mostra que é necessário reduzir principalmente as emissões dos automóveis, mas também dos ônibus”, indica David Tsai, coordenador da área de emissões do Iema.
Segundo a instituição, o inventário de emissões é uma ferramenta que contribui tanto para melhorar o transporte quanto para combater a poluição do ar, dois temas críticos em grandes metrópoles como São Paulo. Novos estudos deveriam ser uma prioridade, pois são imprescindíveis para a gestão pública, não só na agenda de desenvolvimento e implementação de Políticas Públicas, mas também no seu monitoramento. “O inventário de emissões deve ser continuamente aprimorado, para permitir análises cada vez mais precisas e abrangentes. O transporte de cargas e as fontes fixas de emissão podem ser os próximos temas”, afirma Tsai.
As conclusões do inventário desconstroem a ideia de que a frota de ônibus seja a principal responsável pela poluição na cidade. Foram analisados diferentes tipos de poluentes atmosféricos e, em quase todos eles, fica claro o maior impacto de automóveis e motos – transportes individuais – em relação aos ônibus, quando comparados os índices de emissões por passageiro transportado.
Um exemplo é o material particulado (MP), poluente crítico na maior cidade do país. As emissões geradas pelos ônibus (4,9 mg por passageiro/km) são quase quatro vezes menores que pelos carros (18,5 mg) e quase três vezes menores que pelas motocicletas (13,4 mg). Automóveis são responsáveis por 71% das emissões do poluente na cidade, contra 25% dos ônibus e 4% das motocicletas.
De modo geral, o mesmo ocorre para outros tipos de poluentes atmosféricos (como monóxido de carbono e hidrocarbonetos não-metano) e GEE, com os automóveis como os principais emissores. Proporcionalmente, as emissões só são maiores nos ônibus no caso dos óxidos de nitrogênio, o que é explicado pelo fato de esse poluente ser gerado em níveis mais elevados pelos motores movidos a diesel.
Trânsito em São Paulo em horário de pico (Fotos Públicas)
Também foi analisada a quilometragem percorrida pelos diferentes modos de transporte. Constatou-se que os automóveis são responsáveis por 88,1%, as motocicletas por 9,1% e os ônibus 2,8%. No entanto, quando considerados os quilômetros percorridos por pessoa (e não por veículo), os ônibus são responsáveis por 55%, contra 42% dos automóveis e 3% das motocicletas.
"Embora desafiadora, hoje já é plenamente viável a transição para um modelo de gestão integrada da mobilidade urbana e da qualidade do ar. Especialmente em um centro urbano com a concentração populacional como a de São Paulo, é muito promissor o impacto na redução de emissões que pode ser obtido pela priorização e pelo incentivo ao transporte coletivo, aliados a escolhas pessoais mais conscientes de todos os cidadãos", afirma Ferreira.
O "Inventário de emissões atmosféricas do transporte rodoviário de passageiros no município de São Paulo" estimou as emissões de poluentes atmosféricos do transporte rodoviário de passageiros no município de São Paulo em um dia típico do ano de 2015, com resolução temporal de uma hora e espacial de 1 km2. Dentro desses limites, foram considerados os diferentes veículos que compõem a frota rodoviária (automóveis, motocicletas e ônibus) e os combustíveis utilizados (gasolina, álcool e óleo diesel).
Fontes do estudo:1) Dados da modelagem numérica de transporte da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), para estimar as emissões por automóveis; 2) Dados de posicionamento via GPS de ônibus da frota de transporte público municipal, fornecidos pela São Paulo Transportes (SPTrans); 3) Pesquisa Origem Destino 2007, Pesquisa de Mobilidade Urbana 2012 (Metrô) e dados de partidas e chegadas de ônibus nos terminais rodoviários (Tietê, Barra Funda e Jabaquara), como complementação para estimar a atividade de motocicletas e ônibus rodoviários; 4) Dados do relatório “Emissões Veiculares no Estado de São Paulo 2015” (Cetesb), para os fatores de emissão de automóveis e motocicletas; 5) Para considerar a influência do congestionamento nas emissões, foram combinados dados da Cetesb com dados do “Guia para Inventários de Emissões de Poluentes Atmosféricos” (Emep/EEA Air Pollutant Emissions Inventory Guidebook 2016) da Comunidade Europeia.
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