Mais tempo para o pedestre!

Leis dão direitos ao pedestre, mas semáforos ignoram essa preferência.Exceção é Curitiba, que implantou 120 semáforos inteligentes. Leia o Editorial #221 do Mobilize

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Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Marcos de Sousa  |  Postado em: 05 de maio de 2017

Idosa atravessa faixa luminosa em Brumeen, Holanda

Idosa atravessa faixa luminosa em Brumeen, Holanda

créditos: Foto: www.lightedzebracrossing.com

 

Aconteceu no feriado de 1º de maio, na avenida Paulista, em São Paulo: Era noite, sinal verde para os pedestres, e uma senhora iniciou a travessia da larga avenida. Bem idosa, caminhava lentamente, com dificuldade. Um motociclista viu a cena, desligou sua moto, desmontou e ofereceu-se para apoiá-la no restante da aventura. Ato contínuo, como o sinal já piscava aquela luz vermelha irritante, dois ciclistas seguraram o trânsito e permitiram que a travessia fosse completada com segurança. Alguns motoristas reclamaram, dois deles avançaram sobre a faixa, mas a ampla maioria esperou em silêncio, guardando o respeito que um pedestre sempre deveria merecer em qualquer rua de qualquer cidade.

 

Exemplar, o caso mostra que ainda existe inteligência e humanidade, mesmo no trânsito maluco e feroz de uma cidade grande. Revela também que os tempos dos sinais de trânsito continuam desequilibrados, sempre em favor dos veículos motorizados: pedestres aguardam três, quatro minutos (tempo para cozinhar um miojo) e ganham um sinal verde que dura um átimo.

 

Desta forma é correto o anúncio da gestão municipal paulistana de ampliar em 20% os tempos dos sinais de pedestres. A informação foi divulgada ontem (3), na solenidade de lançamento da campanha Maio Amarelo, uma ação educativa para reduzir as mortes no trânsito, em especial de motociclistas e pedestres, que a formam a maioria das vítimas, segundo dados do DetranSP.


Curitiba: mais 50% de tempo
Em 2014, a prefeitura de Curitiba iniciou um programa de instalação de semáforos especiais para idosos e pessoas com deficiência, todos dotados de botoeiras para prolongar o tempo de travessia. Os novos equipamentos foram instalados em 31 pontos da capital paranaense, com bons resultados. Entre 2015 e 2016 a prefeitura curitibana ampliou para 120 o total de semáforos especiais e adicionou um melhoramento: agora o sistema somente pode ser acionado por meio de cartões concedidos somente a idosos ou pessoas com mobilidade reduzida. É uma boa ideia, com tecnologia disponível e fácil de ser aplicada a qualquer cidade brasileira.

 

Calçadas ciladas
Para além dos semáforos, pedestres continuam a ser maltratados em todas as cidades do Brasil, a julgar pelos resultados da campanha Calçada Cilada, que apresentou ontem os resultados de 28 dias da maratona: quase 1.600 “armadilhas” foram flagradas em calçadas e faixas de pedestres, nas cinco regiões do país, um desrespeito inexplicável a quem anda. Cabe lembrar: cada pedestre, cada ciclista circulando na cidade significam carros a menos. Evitam colocar nas ruas mais motores, com suas emissões venenosas que geram uma série de doenças nas pessoas, nas cidades e no planeta, como alertam médicos do mundo inteiro em campanha contra a poluição do ar.

 

Teleférico e VLT em Salvador
Boas promessas vêm de Salvador, na Bahia, onde o governo do estado anunciou dois projetos integrados de mobilidade: um VLT para conectar os subúrbios soteropolitanos ao Centro e um teleférico que ligará os bairros de encostas ao metrô da cidade. Duas boas iniciativas que têm o potencial de reduzir o tráfego pesado na capital baiana. Mas, ainda são projetos e podem levar anos, talvez décadas, para sair do papel.

 

Código de Trânsito Brasileiro
Voltando aqui ao chão, calçadas e sinais para pedestres são o primeiro passo na construção de uma rede de mobilidade urbana. São medidas simples, baratas e de execução rápida. E permitem que as pessoas possam caminhar com segurança e conforto. E por fim, retomando o episódio da senhora na Paulista, cabe lembrar o que está escrito no Código de Trânsito Brasileiro, Art. 29, § 2º:


“Respeitadas as normas de circulação e conduta estabelecidas neste artigo, em ordem decrescente, os veículos de maior porte serão sempre responsáveis pela segurança dos menores, os motorizados pelos não motorizados e, juntos, pela incolumidade dos pedestres”.

Cumpra-se!


Marcos de Sousa
Editor do Mobilize Brasil

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