Recebemos, semana passada, algumas fotos da Moreelsebrug, ponte exclusiva para pedestres e ciclistas inaugurada no início de 2017 na cidade holandesa de Utrecht. As imagens foram tomadas pela brasileira-holandesa Marian Van de Ven, que voltava à Holanda depois de passar o verão aqui no Brasil, e foi fazer uma visita de reconhecimento à passarela. A nova ponte foi oficialmente inaugurada ainda no final de 2016, após dois anos de construção, mas o tempo de projeto - incluindo as extensivas discussões com a comunidade - consumiram nada menos do que 15 anos.
A obra nasceu para facilitar a travessia de ciclistas, pedestres e cadeirantes sobre a faixa ferroviária, ao lado da estação central de Utrecht, já que as duas pontes existentes distavam cerca de 1.600 metros.
É uma esbelta estrutura metálica, com 295 metros e 10 metros de largura, que recebeu o apelido de "Rabobrug" uma referência ao Rabobank, banco que tem a sua sede ao lado e que em 2001 doou 9 milhões de euros à cidade para os estudos e a construção da passarela. O principal objetivo do banco era oferecer a seus funcionários uma forma de chegar ao centro histórico da cidade de Utrecht em seus intervalos de almoço. No total, a passarela custou 15 milhões de euros, e o restante do valor foi partilhado entre Ministério dos Transportes e a prefeitura de Utrecht.
Plataforma da nova passarela: sinalização define faixas de usos: ciclistas e pedestres| Foto: Marian Van de Ven
A estrutura tem faixas separadas - claramente indicadas - de pedestres e ciclistas: 3,6 metros para pedestres e 3,6 metros para bicicletas. Os restantes 2,8 metros são ocupados pelo canteiro central, com uma linha de 17 árvores, que foram especialmente cultivadas em caixas rasas, transportadas e montadas na passarela por meio de guindastes.
Polêmica na Justiça
A construção foi adiada por longos anos, principalmente porque havia interesses comerciais em jogo: o projeto previa um acesso direto da plataforma da estação ferroviária direto para a ponte, por meio de escadarias, mas essa alternativa gerou uma oposição feroz dos comerciantes do shopping estação, que temiam perder parte de sua clientela. O caso foi parar na Justiça porque o acordo assinado em 1970 entre o proprietário do shopping e a cidade previa que todas as rotas de passageiros deveriam passar por suas lojas. O tribunal ainda não adotou uma decisão e por conta disso a passarela foi construída sem esses acessos, que poderão ser acrescentados a qualquer momento, quando a Justiça decidir se o acordo de 1970 ainda tem validade.
Ciclista conduz a bicicleta na ranhura lateral, ao lado da escadaria| Foto: Marian Van de Ven
A área em que a ponte foi construída tem uma alta densidade de construções. Assim, o projeto teve que "espremer" a estrututura nas áreas disponíveis. E como não havia espaço para rampas cicláveis os arquitetos do escritório Cepezed - autor do projeto - incluíram escadas dotadas de sulcos laterais para que as pessoas possam empurrar as bikes escada acima. Elevadores permitem o acesso de pessoas com deficiência e idosos, que podem inclusive levar suas bicicletas. Algumas pessoas se queixam das escadas, mas outras vêem vantagens, como a impossibilidade de passagem de scooters sobre a ponte.
No pavimento, explica Marian Van de Ven, a ciclovia recebeu um revestimento asfático poroso e mais fino do que o aplicado em ruas e estradas, que deixa passar a água das chuva. Com o frio inverno da Holanda, haveria o perigo de congelamento da superfície e os consequentes escorregões dos ciclistas. "O problema é que pega sujeira que é uma beleza; acho que faltou algum tipo de tratamento para que a coisa toda não se transforme num horror dentro de pouco tempo", comentou Marian, via facebook. Problemas à parte, a Moreelsebrug já se tornou uma referência internacional.
* Com informações da NL Cycling (bicycledutch.wordpress.com)
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