"Ônibus em SP podem estar 100% com combustíveis limpos até 2020"

Ativista do Greenpeace afirma que a simples renovação obrigatória da frota pelo tempo de uso já permitiria essa transição. A decisão só depende da prefeitura

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Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Regina Rocha / Mobilize Brasil  |  Postado em: 07 de abril de 2017

Programa para ampliar frota com biodiesel foi desa

Programa para ampliar frota com biodiesel foi desativado

créditos: Prefeitura de SP/ Divulgação

 

A frota de ônibus de São Paulo é composta por 15 mil veículos que transportam cerca de 28 milhões de passageiros. É a maior do país, mas, apesar dessa relevância, o sistema de transporte coletivo da capital paulista resiste em trocar seu ultrapassado modelo poluidor baseado em combustíveis a diesel. 

 

E não é de hoje: três gestões municipais - Gilberto Kassab, Fernando Haddad e agora João Doria - praticamente vêm fazendo vista grossa à obrigação colocada pela Política Municipal de Mudança do Clima (Lei 14.933, de 2009), que exige que a partir de 2018 todos os ônibus devam estar empregando combustíveis 100% renováveis. 

 

Segundo o coordenador da campanha Clima e Energia do Greenpeace, o engenheiro Davi de Souza Martins, "a transição do diesel para biodiesel e outros combustíveis limpos foi negligenciada pelos governos. Isso está acontecendo inclusive agora, com o Plano de Metas (2017-2020) apresentado em fins de março pela atual gestão, que ignora o tema", questiona o ambientalista. 

 

Esse processo para renovação dos ônibus foi iniciado em decorrência da lei municipal de 2009. E chegou até a avançar um pouco na gestão Kassab, com o programa Ecofrota, lembra Martins. Mas em abril de 2014 a gestão Haddad, por meio da SPTrans, desativou o programa após denúncias de que estaria colocando ônibus a diesel comum para circular com o logotipo do programa. "O que se manteve foram só os trólebus", lamentou.      

 

Estudos e viabilidade

Não faltam estudos com subsídios para se por em marcha essa mudança. Pensando na próxima licitação de ônibus da cidade de São Paulo (suspensa desde o fim do ano passado, aliás), o Greenpeace lançou em agosto de 2016 o Dossiê Ônibus Limpo, documento que faz um levantamento dos custos operacionais do sistema de transporte, e que apresenta testes com veículos híbridos e elétricos em outras cidades, além de pesquisas na área de saúde ambiental. 

 

No que diz respeito aos efeitos nocivos da poluição dos ônibus à saúde humana há estudos também do Laboratório de Poluição Atmosférica da USP, que indicam que 40% da poluição da cidade de São Paulo vêm do diesel. "Os gastos feitos na redução das emissões se reverteriam em economia na área da saúde", vem dizendo o médico Paulo Saldiva, chefe do laboratório. 

 

Amparada por esses trabalhos científicos e técnicos, a organização não deixa dúvidas: há sim condições para se fazer a mudança exigida na lei, tanto do ponto de vista econômico como de tecnologia. "A transição para combustíveis limpos é possível. Ao que parece, falta apenas vontade política...", comenta o representante do Greenpeace. Que isso venha a ocorrer até 2018, a esta altura é difícil de acreditar. Mas, destaca Martins, "a renovação poderia sem dúvida ser feita em 100% da frota até o ano de 2020". 

 

Martins lembra que já existem tecnologias testadas para a substituição da frota dos atuais modelos a diesel mineral para o diesel vegetal (biodiesel, ou B100) e também para ônibus elétricos: "Temos no país o polo indutrial, o da Eletra por exemplo, fabricante dos trólebus usados em São Paulo, e agora a empresa BYD, instalada há dois anos no país, que produz veículos elétricos e híbridos". 

 

Quanto ao custo de aquisição de novos veículos, que os governos alegam ser alto demais quando relutam fazer investimentos em sistemas limpos, também é algo que não passa pelo crivo dos especialistas. 

 

"A troca da infraestrutura poderia ser feita sem aumento de tarifa, ao contrário do que gostam de dizer os governantes. Há linhas de crédito do BNDES para incentivar esse tipo de operação, e contrapartidas, por exemplo. A vida útil dos veículos de energia limpa é maior, e o operador só teria a ganhar já que a necessidade de manutenção desses ônibus é comprovadamente menor", argumenta Martins.    

 

Metas revistas

O Greenpeace e outras organizações da sociedade divulgaram ontem (6) um documento conjunto de Revisão do Programa de Metas da Prefeitura, que pretendem entregar às autoridades municipais a partir de amanhã (8), quando participarão das audiências públicas marcadas na cidade para discussão destas metas. 

 

Mesmo antes da tirada deste documento, conta o ambientalista, a Ong já havia produzido três documentos abordando os benefícios da transição para combustíveis renováveis e protocolado nas secretarias de Meio Ambiente e  de Transportes do município, e também ao prefeito João Doria. Os Greenpeace vêm solicitando uma conversa com o prefeito mas, até agora, nenhuma resposta foi dada. 

 

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