Janette Sadik-Khan, lembram? Ela ficou conhecida no mundo inteiro como diretora do departamento de transportes de Nova York durante a gestão do prefeito Michael Bloomberg (2002 a 2013), período em que operou mudanças radicais no uso do espaço público da metrópole americana: faixas exclusivas para ônibus, praças em locais de estacionamento, abertura de vias para pedestres, 12 mil bicicletas públicas e cerca de 680 km de ciclovias e ciclofaixas implantadas dentro e fora da ilha de Manhattan.
Criticado inicialmente, o programa se mostrou tão positivo para a cidade que, findo o terceiro mandato de Bloomberg, Janette passou a desenvolver propostas para outras cidades do mundo, como Los Angeles, Cidade do México, Atenas e, mais recentemente, Bogotá, na Colômbia. E seu livro "Street Fight", acaba de ser lançado em versão impressa, dia 7 passado. Apesar desse sucesso, Janette e suas bicicletas ainda não têm a unanimidade. O novaiorquino Donald Trump, por exemplo, acha que as mudanças realizadas são "uma chatice" e, como ele, muita gente pelo mundo não aprecia muito a ideia de compartilhar qualquer coisa, sejam espaços públicos ou lugares em trens de metrô.
Em São Paulo, o novo ocupante da cadeira de prefeito também não parece muito disposto a investir em políticas de restrição ao uso do automóvel. Sinal recente dessa tendência foi a eliminação de um trecho de um quilômetro de ciclovia da cidade, sem aviso ou qualquer discussão nas câmaras e comissões municipais que tratam de transporte e tráfego. Ante a reação pública, a prefeitura negou o apagamento da ciclovia e alegou tratar-se de uma manutenção do pavimento, incluindo a retirada das placas de sinalização "para limpeza", segundo nota divulgada ontem (23). É verdade que a manutenção dos 468 km de ciclovias paulistanas já andava bem ruim na gestão anterior, mas agora parece haver uma política deliberada para a deterioração dessa infraestrutura.
Ciclovias são necessárias para permitir que adultos, crianças e idosos possam se deslocar de bicicleta nas cidades de forma mais segura. Ciclovias precisam ser ampliadas, melhoradas, cuidadas e conectadas às grandes redes de transportes públicos, em todas as cidades. É uma forma simples e barata de transporte, que reduz ruído, emissões de carbono, e que tira carros das ruas. Outra forma, igualmente simples e econômica, é o melhoramento de calçadas, faixas de pedestres, semáforos e todos os recursos que possam estimular mais gente a deixar seus carros em casa e caminhar um ou dois quilômetros até o mercado, a escola, a academia. Mobilidade ativa faz bem para as pessoas e para a saúde das cidades.
Por último, é lei. A Política Nacional de Mobilidade Urbana (Lei nº 12.587/2012) estabelece claramente a prioridade para pedestres, ciclistas e usuários de transportes públicos na gestão urbana. A razão é simples: as cidades não suportam mais automóveis.
Senhores prefeitos, façam como Bloomberg e Janette: mais calçadas, mais ciclovias, mais praças.
Marcos de Sousa
Editor do Mobilize Brasil