Câmara Metropolitana do Rio planeja VLT ou BRT na Baixada Fluminense

Agência francesa banca projeto de viabilidade de linha na faixa ferroviária de ramal de cargas. Sistema ligaria a Pavuna ao Arco Metropolitano

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Fonte: O Globo  |  Autor: Elcio Braga/O Globo  |  Postado em: 15 de março de 2017

VLT ou BRT na Baixada Fluminense

Ramal ferroviário no bairro do Éden: em breve, um BRT ou VLT

créditos: Câmara Metropolitana / Divulgação


na década de 1930, a história de uma bruxa prejudicou o desenvolvimento de Éden, bairro carente de São João de Meriti. Mas esta superstição será atropelada se o projeto de VLT ou BRT na Baixada Fluminense, em estudo de viabilidade, for concretizado até 2020. A linha prevista, paralela ao atual ramal de cargas de Santa Rita operada pela MRS Logística, segue por 18 km entre a Pavuna — passando por Éden — e o Arco Metropolitano, em Nova Iguaçu. O investimento, estimado em pelo menos R$ 600 milhões, pode dar um grande impulso ao progresso da região, beneficiando 400 mil pessoas no Rio de Janeiro, São João de Meriti, Belford Roxo, Mesquita e Nova Iguaçu.

 

O estudo de viabilidade, com duração de 90 dias, deverá ser concluído até 12 de maio e custará 300 mil euros (o equivalente a R$ 1 milhão), bancados pela Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD). O levantamento é executado pelo consórcio Systra/Tectran (especializado em mobilidade) e o Atelier Parisien d'Urbanisme (Apur), responsável pelo planejamento na Grande Paris. É a primeira vez que o escritório francês atua na Baixada Fluminense.

 

A Câmara Metropolitana de Integração Governamental, secretaria do Estado que busca unificar ações dos municípios da Região Metropolitana, aguarda a definição sobre qual o cenário, entre os três analisados, é o mais adequado. No primeiro, a área do transporte de cargas é duplicada e se acrescenta o transporte de passageiros em linha paralela e independente. No segundo, preserva-se o transporte de cargas e se adota, em sua margem, um transporte de média capacidade, como o VLT ou o BRT. O último cenário prevê o deslocamento do ramal de cargas de Santa Rita para o antigo ramal Ambaí-São Bento, liberando o trecho exclusivamente para passageiros, além de abrir espaço a empreendimentos imobiliários.

 

 

"Estamos apostando mais no segundo cenário, mais pé no chão. Em princípio, tem maior viabilidade de ser implementado. Creio que este projeto é de maturação para dois ou três anos" — acredita o diretor-executivo da Câmara Metropolitana, Vicente Loureiro, convicto da complexidade da terceira opção. Se implantada, a linha Pavuna-Arco Metropolitano será um duro golpe na Maldição da Bruxa. A região é hoje bastante degradada e muito carente, com muito lixo acumulado na margem da linha férrea. A instalação de um novo sistema de mobilidade é fundamental para a recuperação da área.

 

As estimativas iniciais apontam para uma economia de 40 a 50 minutos no tempo de deslocamento dos moradores. As estações modais previstas atendem aos principais bairros, como Pavuna, Éden, Coelho da Rocha, Miguel Couto e Adrianópolis. Mas estão previstas ainda estações menores entre elas. A proposta é propiciar a integração com o metrô, na Pavuna, e o trem da SuperVia, em São João de Meriti. A Câmara Metropolitana considera que as melhorias levariam à valorização de terrenos e atrairia investimentos, como o do 'Minha Casa, Minha Vida', além de expandir o comércio e a geração de serviços.

 

BRT ou VLT
O VLT ganha a preferência justamente por representar maior potencial na recuperação de áreas degradadas. Exemplos de modelos adotados em Medellin e em Bogotá, na Colômbia, e na Grande Paris, foram apresentados em encontros organizados pela Câmara Metropolitana com representantes das prefeituras da região. "O VLT tem um caráter muito emblemático, de dar significado, valorização, mexer com a autoestima. O BRT também pode fazer isso. Mas acho que o VLT pode mais ainda. Ao cabo, o que vai pesar mesmo é o que tem maior viabilidade técnica, econômica e jurídica", defende Vicente Loureiro. O interesse da agência de fomento francesa em patrocinar o estudo está na possibilidade de a escolha recair sobre o VLT. É que empresas francesas — se o projeto sair mesmo do papel — poderão ganhar eventual licitação e fornecer as composições e o sistema de operação.

 

Após a definição do projeto, a Câmara Metropolitana terá de costurar o financiamento para a obra. Com os cofres do estado vazios, porém, a esperança é obter os recursos necessários sobretudo no regime de parceria público-privada (PPP). "Pretendemos que o investimento seja o máximo possível em PPP ou Operação Urbana (intervenções coordenadas pelo poder executivo com a participação de agentes públicos e privados), para que possamos atrair a iniciativa privada, como no Porto Maravilha — explica Vicente.

 

Em levantamento preliminar, admite-se um custo médio de R$ 30 milhões por quilômetro para um projeto de BRT de grande porte. Para o VLT, o custo é maior: R$ 40 milhões. Estima-se que as instalações custariam R$ 600 milhões no caso do BRT e de R$ 800 milhões, no do VLT. Estes valores não consideram, porém, os gastos com as compras dos veículos nos dois modelos, além de outras intervenções, que podem aumentar muito os gastos.

 

A lenda da bruxa
O transporte de passageiros no ramal de Pavuna a Santa Rita não é novidade. A linha foi utilizada inicialmente por passageiros na primeira metade do século passado. Foi justamente neste período que surgiu a lenda da Bruxa de Itinga. Itinga era o nome antigo de Éden, então parte de Nova Iguaçu. Como interventor do município, o deputado Manoel Reis, entre 1932 e 1935, sugeriu a mudança do nome depois de o boato sobre a aparição de uma bruxa ter deixado o lugar mal falado.

 

 

 Uma das versões é de que um corretor de imóveis teria divulgado a existência de uma bruxa e simulado pegadas estranhas durante uma noite para chamar a atenção sobre um loteamento. Ele teria disponibilizado ônibus para trazer eventuais compradores, mas as pessoas só teriam se interessado em ver o lugar onde vivia a Bruxa de Itinga.

 

A versão defendida pelo historiador Gênesis Torres é de que tudo não passou de um mal-entendido. Uma mulher idosa, que possivelmente usava uma bengala teria deixado marcas em suas caminhadas noturnas, dando origem à lenda sobre as andanças de uma velha bruxa no bairro. "Na verdade, era uma senhora que usava um cajado, com pé de bode. Deixava marcas no chão quando saia à noite. A região era pantanosa. O pessoal dizia que era a bruxa", conta Gênesis. Sem vender nenhum terreno, o loteador teria se queixado ao interventor, que propôs trocar o nome por um outro com origem bíblica para acabar com a fama ruim. Pensou-se em Jardim Paraíso, mas já havia uma localidade com o mesmo nome em Nova Iguaçu. Optou-se, então, por Éden.

 

Gênesis questiona a versão sobre o empreendedor ter criado a lenda para vender lotes. Em suas pesquisas não encontrou provas. A lenda, porém, prosperou. O próprio historiador já recebeu oferta inusitada para se dar um basta na maldição da Bruxa de Itinga, que até hoje atrasaria o desenvolvimento do bairro. "Um pastor me chamou para um culto. Garantia que tinha o poder de tirar a maldição da bruxa sobre o Éden. Nem respondi", diz Gênesis, indignado.



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