"Um metro e meio é um padrão internacional", diz diretor do Detran-RS

Em entrevista, Ildo Mário Szinvelski defende o uso da bicicleta no meio urbano e explica porque os carros devem guardar distância de 1,5 m dos ciclistas

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Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Marcos de Sousa/Mobilize Brasil  |  Postado em: 11 de março de 2017

Ildo Mário Szinvelski (dir.) na abertura da campanha

créditos: Douglas Mafra/Detran-RS

Leitores do Mobilize devem ter notado que desde quinta-feira (9) o portal anda instável como uma bicicleta bêbada. Sai do ar, volta, sai de novo, volta. O motivo foi a publicação de um texto sobre o Dia pela Segurança do Ciclista, evento que marcou o início de uma campanha do Detran-RS para educar os motoristas em relação dos direitos de quem pedala, além de estimular o uso da bicicleta nas cidades gaúchas. O texto e a curiosa foto dos ciclistas utilizando "Respeitômetros" viralizou nas redes sociais e gerou picos de acesso que derrubaram nossos servidores.

Além dos problemas técnicos para o site, a matéria desencadeou um acalorado debate entre ciclistas e especialistas de trânsito sobre o próprio artigo do Código de Trânsito Brasileiro que define a distância de 1,5 m para que um veículo automotor passe ao lado de um ciclista. Alguns acham o espaço exagerado, outros defendem que o carro mude de faixa para a ultrapassagem etc.

 

 

 Ildo Mário Szinvelski, diretor do Detran-RS: bicicleta tem que ser respeitada. Foto: Detran/RS

 

Para esclarecer o tema e saber mais sobre a campanha, entrevistamos o diretor do Detran-RS, Ildo Mário Szinvelski, que falou por telefone na tarde desta sexta-feira (10). Portador de um extenso currículo na área de Trânsito, e Segurança, Szinvelski é graduado em Engenharia Operacional Mecânica, em Ciências Jurídicas e Sociais pela Unisinos, e pós-graduado em Direito Ambiental pela Ulbra. É também ciclista e entusiasta do uso da bicicleta no meio urbano, pelos ganhos ambientais e culturais que esse veículo pode trazer às cidades. 

 

O que é a Campanha , quais são os objetivos?
O lançamento da campanha, em Porto Alegre, marca o início de uma mobilização pela segurança do ciclista que nós pretendemos estender para vários municípios do Rio Grande do Sul, sempre com suporte das instituições dos municípios. Desde 2015, o Detran criou vários grupos de trabalho e um deles dedicado exclusivamente sobre o uso da bicicleta e a segurança do ciclista e para estimular as políticas públicas qeu permitam maior uso desse veículo em nossas cidades.

A bicicleta é um veículo, isso está no Código de Trânsito Brasileiro. É um veículo de propulsão humana, ambientalmente correto. Esse grupo de trabalho, que conta com a participação dos ciclistas, tem estudado os principais problemas enfrentados no dia a dia para o uso da bicicleta e, sobretudo, as questões de segurança do ciclista. O grupo realizou campanhas e desenvolveu diversos trabalhos sobre sinalização, formação de condutores, elaborou sugestões para ciclovias. Além dos técnicos de trânsito, esse grupo conta com educadores, profissionais de comunicação e representantes de organizações de ciclistas, e também pesquisadores do Laboratório de Políticas Públicas aqui de Porto Alegre. O Rio Grande do Sul, por meio dessas campanhas, tem conseguido diminuir a sinistralidade no trânsito e um dos indicadores disso foi a redução no número de ciclistas envolvidos em acidentes. Eles eram 9,7% das vítimas de acidentes em 2007 e hoje são menos de 5,2% do total de acidentados em 2016.

 

Por que o tema da distância de ultrapassagem? E por que um instrumento como o Respeitômetro?
O lançamento da campanha significou um momento de reflexão, de tomada de consciência. Os condutores de veículos motorizados ficaram bastante interessados e muitos admitiram não saber que era esta a distância regulamentada para passar pelos ciclistas. O Respeitômetro é uma estrutura leve, metálica, fechada com PVC que demonstra, na prática, qual é a distância que deve ser guardada pelo motorista Alguns já sabiam da norma, mas ficram surpresos em ver o que é essa distância, assim demarcada. O Respeitômetro foi desenvolvido para obter exatamente esse impacto e nós pretendemos utilizá-lo em todas as ações futuras. Mas no evento nós utilizamos outros materiais, como fitas métricas, folders educativos, enfim materiais de infiormação para estimular o respeito ao ciclista.

 

Como o sr. disse, poucas pessoas sabem dessa regra de 1,5 m para passar o ciclista, mas há quem considere essa distância um exagero, que deveria ser mudado no Código. Essa distância é realmente necessária? De onde vem esse padrão?
O Código de Trânsito Brasileiro é uma legislação moderna, muito avançada, com parâmetros para evitar qualquer risco. A regra do 1,5 metro é a mais importante para garantir a segurança do ciclista. O motorista não pode passar pelo ciclista sem guardar essa distância mínima de um metro e meio. Essa distância não é aleatória, ela vem de parâmetros internacionais, porque o risco para um ciclista no trânsito é grande. Ao guardar essa distância, o motorista evita choques, em função da vulnerabilidade do ciclista, das irregularidades do piso, e mesmo do deslocamento de ar, que pode puxar a bicicleta.


Mas por que a bicicleta?
A recente pesquisa nacional do perfil do ciclista detectou que 69% dos ciclistas de Porto Alegre adotaram a bicicleta como transporte nos últimos 5 anos. As motivações se dividem entre a rapidez (37%), saúde (31%), economia (21%) e também pelos ganhos ambientais. Esse fenômeno do uso da bicicleta como meio de transporte ainda é recente no país, mas deve continuar crescendo pela simples falta de espaço para circulação de mais veículos particulares. O ideal seria que as cidades tivessem bons sistemas integrados de transportes, com conexões entre si e com as ciclovias. No lançamento da campanha, na rua, nós procuramos levar aos motoristas a mensagem de que estamos vivendo um novo momento, que exige um novo olhar para a cidade e para o trânsito. O Código já estabelece uma hierarquia, de tal forma que os veículos de maior porte serão sempre responsáveis pela segurança dos veículos menores, estes pelos ciclistas, que por sua vez devem priorizar os pedestres.

 

Além de Porto Alegre, quais cidades receberão a campanha?
Vamos trabalhar inicialmente com os municípos grandes, cidades mais planas, sempre somando a questão ambiental com a da segurança. Cidades turísticas, como Gramado, Canela, Pelotas, Santa Maria, Caxias do Sul e algumas outras, nas quais já existe uma cultura de uso da bicicleta. O objetivo é incentivar os gestores municipais a investirem em sinalização, ciclovias e ciclofaixas...

 

Ciclovias são realmente necessárias? Alguns ciclistas defendem a ideia de que a educação para compartilhamento das ruas seria a chave para estimular o maior uso das bikes...
Na mesma pesquisa nacional ficou claro que a construção de ciclovias seria a motivação maior para que as pessoas continuem a usar a bicicleta no cotidiano. Cerca de 47% dos entrevistados indicaram ciclovias e ciclofaixas, depois a segurança no trânsito e a segurança pública. O fato é que Ciclistas nos trazem relatos diários dos desrespeitos por parte dos condutores. Por exemplo, as finas educativas, que precisam ser eliminadas de nossas ruas.

 

Os materiais da campanha estão disponíveis para o publico?
Sim, todos os materiais, pesquisas e outros dados relativos à campanha estão publicados no site do Detran-RS e podem ser obtidos por qualquer pessoa, de qualquer ponto do país. E estamos agora em tratativas com o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) para que a próxima Semana do Trânsito, em setembro, tenha como enfoque principal a segurança do ciclista.


Leia as pesquisas sobre acidentes com bicicletas no RSNúmeros da acidentalidade de ciclistas no RS e em Porto Alegre (24,00 kB)


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