Morar a no máximo um quilômetro de distância do metrô, BRT, VLT ou de trens urbano é a condição ideal para que as metrópoles tenham um trânsito menos sobrecarregado e, portanto, mais humanizado. São os chamados meios de transporte de média e alta complexidade, que não incluem o sistema de ônibus convencionais.
Essa é a realidade de 100% dos parisienses, por exemplo. Em Belo Horizonte, apenas 27% dos moradores têm esse privilégio. “A facilidade de acesso é atrativa. A viagem fica mais rápida e agradável, fazendo com que as pessoas tenham o interesse em deixar o carro na garagem para pegar o transporte público”, destaca o mestre em engenharia de transportes Gabriel Oliveira.
Ele é coordenador do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP Brasil), que analisa a mobilidade urbana nas maiores cidades do mundo. A proposta é nortear a criação de políticas públicas. O ITDP apresentará nos dias 20 e 21, em Quito, no Equador, uma pesquisa feita no ano passado em 30 cidades do mundo, incluindo a capital mineira. O Instituto calculou o percentual de moradores em um raio de um quilômetro do acesso aos meios de transporte de média e alta capacidade. O indicador é chamado de PNT, sigla para o termo em inglês People Near Transit (pessoas próximas ao trânsito). Na capital mineira, onde não há VLT nem trens urbanos, o PNT subiu de 16% para 27% após os investimentos para a Copa do Mundo de 2014, ou seja, a criação do Move.
“A última intervenção no metrô de BH foi em 2002. O BRT transporta 500 mil passageiros por dia e é possível que a rede seja aproximada de pelo menos metade da população”, avalia Oliveira.
A maratona do estudante de educação física Lucas Mattos, de casa ao estágio, é um dos problemas de mobilidade encontrados pelo ITDP Brasil nas cidades em que o sistema de ônibus convencionais é o transporte coletivo mais usado. O ponto de embarque mais próximo da casa de Lucas fica a 4 km de distância, no Centro da capital. Ele mora na região Noroeste, no bairro Padre Eustáquio. Mas mesmo se estivesse mais perto do Move, não poderia usá-lo no deslocamento até a academia onde faz estágio, que fica no bairro Santa Lúcia (Centro-Sul), que não é atendido pelo BRT.
O mesmo ocorre em relação ao metrô. A estação mais próxima da casa de Lucas é a Calafate, a 2,5 km. Esse meio de transporte, no entanto, não chega ao Santa Lúcia. Resta ao universitário pegar um ônibus convencional, enfrentar o trânsito pesado e descer na avenida Raja Gabaglia. Após longa caminhada, ele chega à academia, 45 minutos depois.O universitário está entre os 73% dos belo-horizontinos muito distantes do acesso ao Move e metrô. “É uma rotina um pouco estressante, porque os ônibus geralmente não têm conforto e o trânsito alguns dias está caótico, principalmente quando vai aproximando do Centro da cidade”, lamenta Lucas.
Ele costuma usar o Move em outros deslocamentos e elogia o meio de transporte. O universitário, no entanto, sonha com a ampliação do metrô. “Seria uma boa para tudo, inclusive para o trabalho. Com certeza daria para economizar tempo”, diz.
Mesmo com a criação do Move em BH, dados do Observatório do Clima, que estuda os efeitos do trânsito nas metrópoles, apontam que entre 1996 a 2015 a quantidade de moradores que usam transporte coletivo caiu de 76% para 63%. Enquanto isso, o transporte individual aumentou de 20% para 32%. No ano passado, a média foi de 170 novos carros emplacados por dia na capital.
Baixa prioridade ao transporte coletivo
Uma das razões pode ser a baixa prioridade dada ao transporte público em Belo Horizonte. Mesmo com o avanço proporcionado pela criação do Move, o ITDP Brasil identificou uma falha na mobilidade urbana de BH que prejudica a adesão ao transporte público. “Em apenas 1% das vias da cidade há prioridade para o transporte coletivo. É muito pequena a quantidade de faixas exclusivas”, aponta o mestre em engenharia de transportes Gabriel Oliveira.Segundo o especialista, por esse motivo falta conexão no transporte público em algumas partes da cidade, como na citada por José Roberto.
Com PNT de 27%, BH está à frente de outras capitais brasileiras, como Brasília (17%) e São Paulo (25%), segundo a pesquisa do ITDP Brasil. O Rio de Janeiro apresentou o melhor indicador, com 47%.
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