Pé de Igualdade

05
November
Publicado por admin no dia 05 de November de 2014

Famoso busto do poeta inaugurado pelo então Barão de Rio Branco

Famoso busto do poeta inaugurado pelo então Barão de Rio Branco

Desde suas origens como cidade distante e acanhada, São Paulo deixa registro das precárias condições de calçamento de suas ruas. O poeta romântico Álvares de Azevedo, que aqui residiu a contragosto em meados dos anos quarenta do séc. XIX, enquanto era aluno da Faculdade São Francisco, diversas vezes se manifestou a respeito, conforme relatado no livro “A Capital da Solidão”, do jornalista Roberto Pompeu de Toledo: “[…] a cidade ainda não deixou de ser São Paulo, o que quer dizer muita coisa- entre as quais tédio e aborrecimento… Quanto a outros divertimentos – nichts – só andar pelas ruas dando topadas nas pedra… As calçadas do inferno são mil vezes melhores… A cidade colocada na montanha, envolta em várzeas relvosas, tem ladeiras íngremes e ruas péssimas.”

O que aconteceria se o poeta voltasse hoje a São Paulo e percorresse as vias paulistanas? Provavelmente registraria sua admiração pela transformação da cidade acanhada em uma grande metrópole e certamente acrescentaria que as pistas dos veículos em sua maioria apresentam boas condições de circulação. Mas este possível entusiasmo inicial seria rapidamente dissipado ao observar o aspecto da maioria das calçadas paulistanas. Estupefato, veria que seus relatos de quase duzentos anos atrás continuariam válidos nos dias atuais. Mais admirado ficaria se procurasse saber o motivo pelo qual as pistas por onde passam os veículos são bem mais cuidadas que as calçadas.

Qual seria sua reação se acaso chegasse a saber que mesmo definidas por lei (Código de Trânsito Brasileiro) como via, calçada e pista, recebem tratamento diferenciados? Enquanto as primeiras são deixadas aos cuidados dos proprietários dos lotes que geralmente as ignoram ou delas se utilizam para as mais variadas finalidades, as pistas são adequadamente construídas e mantidas pelo poder público. Certamente nosso poeta expressaria sua indignação e exigiria igualdade de tratamento para calçadas e pistas, ambas construídas e mantidas pelo poder público e cobradas da população através de impostos.

Mas enquanto isso não acontece, Álvares de Azevedo só observa as transformações da metrópole paulistana de seu posto no Largo São Francisco…



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