Há muitos anos assisti a uma palestra de um psicólogo que apresentou o conceito de “Desculpa Perfeita” como um recurso utilizado para postergar ou deixar de fazer o que não julgamos importante. Ela é o motivo que encontramos para justificar uma escolha, uma decisão. Muitas vezes pode até ser decorrente de uma circunstância. Em outras livre. Mas sempre é um produto da nossa vontade.
De início resisti em aceitar. Como assim “desculpa perfeita”? Muitas vezes somos obrigados a abrir mão de uma coisa por outra, deixamos de comparecer a um compromisso porque temos outro, optamos em gastar dinheiro numa coisa e não em outra. Obviamente que somos movidos por “necessidades circunstanciais” eleitas como prioritárias. Ou seja, nossas opções são sempre baseadas no que decidimos como importante naquele momento. Tratam-se de escolhas.
O conceito está aí, é muito simples, trivial e praticado no nosso dia a dia. Define todas as nossas tomadas de decisão: desde as pessoais até como gestores públicos; legisladores, por exemplo, decidem como será gasto o dinheiro dos impostos. É aí onde quero chegar.
E por que é assim? Lá vem a desculpa perfeita: prefeituras não tem dinheiro, gente e estrutura suficiente para se responsabilizarem pela construção e manutenção de calçadas. Nem mesmo para fiscalizá-las como determina a legislação.
O dinheiro sai dos impostos. Qual é a desculpa perfeita para se ter dinheiro público para isso então? É porque não é admissível gerir pistas da mesma forma que calçadas. Já pensou como seria circular de carro numa pista com o mesmo modelo de gestão de calçada, onde cada proprietário de lote construiria e pavimentaria a pista na frente de seu lote sem a devida fiscalização da prefeitura?
Acho que agora ficou bem claro para todos o que é “desculpa perfeita”. Essa tal de “desculpa perfeita” é “vontade política”, aquele critério de importância que habita mentes de nossos tomadores de decisão, legisladores, formadores de opinião, até mesmo da sociedade de forma geral.
E assim se escolhe privilegiar determinado tipo de mobilidade urbana e sua infraestrutura, determinado segmento social em detrimento de outro. Privilegia o que usa o veículo em detrimento do que caminha. Se ainda a escolha deste privilégio corresponder à maioria de cidadãos até se justifica democraticamente. Mas quando é dirigida a uma minoria, só uma coisa explica: a tal “desculpa perfeita”. Neste caso, uma “desculpa esfarrapada”…
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