Quando o quesito é ‘praia acessível’, Miami é um ótimo exemplo de que o Desenho Universal pode ser aplicado em qualquer ambiente, inclusive onde há água e areia. Na praia da Ocean Drive, avenida mais badalada da cidade, há uma esteira feita em treliça, construída sobre a areia, permitindo ao cadeirante fazer tranquilamente o trajeto até o ponto da praia. Só não é melhor porque não leva até o mar.
Há ainda o Board Walk, deck de madeira totalmente plano, com corrimão em toda a sua extensão de 6,4 km que beiram a praia. As pessoas podem andar, correr, cadeirar… Entre areia, bares, restaurantes e hotéis, pode-se avistar idosos, mães empurrando carrinhos de bebês, crianças, pessoas com deficiência, jovens… Toda a diversidade contemplada em um só um local.
Outro serviço que vale a pena citar é a acessibilidade no transporte aquático e a preocupação em se incluir pessoas com deficiência nos esportes náuticos. Tive o prazer em conhecer o Shake a leg, um programa de vela e outros esportes com barcos adaptados a pessoas com deficiência. Os profissionais, cuja maioria é voluntária, são treinados para atender este segmento.
A iniciativa é de Harry Horgan, que ficou paraplégico em um acidente de carro. Apaixonado por esportes de água, ele resolveu criar um programa em que pudesse resgatar a autonomia de pessoas com deficiência. Em 1990, convidado pelo Dr. Barth Green, chefe da neurocirurgia no Jackson Memorial Hospital e co-fundador do ‘Miami Project to cure paralysis’, Horgan iniciou um programa de reabilitação e recreação que tem servido para melhorar a vida de milhares de pessoas, inclusive de crianças e jovens com autismo que fazem passeios de caiaque.
A parceria se dá através do Poder Público, iniciativa privada e uma série de organizações da base comunitária. Segundo Horgan, em breve ele estará no Brasil para os jogos paralímpicos. E promete: vem com um barco totalmente acessível. Aqui no Brasil, pretendo ampliar o programa Praia Acessível, mapeando os locais onde são oferecidas as cadeiras anfíbias e cobrando as prefeituras litorâneas a oferecer o serviço.
A área verde de Miami também é um capítulo à parte. Visitei o Jardim Botânico da cidade e fiquei simplesmente encantada. Fundado em 1938, o Fairchild Tropical Botanic Garden é um local deslumbrante, com uma vasta coleção de plantas, flores, árvores exóticas… Tudo isso em uma trilha natural e acessível para que qualquer visitante circule por todo o espaço.
Para fechar, não poderia deixar de dividir com vocês minha visita ao Miami Project, maior centro do mundo para cura de paralisias. Fundado em 1985, o local reúne hoje cerca de 250 cientistas, inclusive brasileiros, e desenvolve diversas pesquisas que prometem reverter paralisias e lesões medulares. Conheci de perto o equipamento Ekso Bionics, exoesqueleto biônico que conectado ao corpo de um paraplégico aumenta a força, mobilidade e resistência, permitindo a essa pessoa ficar em pé novamente e caminhar.
Assim como em nosso país, a população com deficiência nos EUA é representativa. Segundo o Miami Project, a cada ano surgem 12 mil novos casos de pessoas que sofreram uma lesão medular. Apesar da grande incidência de deficiência, as cidades do país, quando bem planejadas como Miami, conseguem oferecer não só espaços acessíveis, como calçadas e transporte público, mas também diversão, qualidade de vida e novas perspectivas sobre o irreversível. E convenhamos: sol e novos horizontes não fazem mal a ninguém.