Tendo como objetivo construir uma cidade justa, democrática e sustentável, a prefeitura de Paris lançou hoje, 15 de janeiro, uma nova plataforma colaborativa de planejamento e elaboração de políticas públicas na cidade. O nome é interessante, embora ainda reproduza o discurso de uma democracia representativa e centralizadora: “MADAME LA MAIRE, J’AI UNE IDÉE“, em referência à prefeita da cidade (Anne Hidalgo). Em português, seria algo como “Senhora prefeita, eu tenho um ideia“.
O projeto foi desenvolvido em um site simples, didático, direto e que pode ser acessado por qualquer pessoa, mediante cadastro. As proposições feitas permeiam áreas que estão conectadas aos assuntos urbanos de Paris e podem ser discutidas, enriquecidas e repensadas dentro de uma lógica colaborativa impulsionada pela imaginação coletiva.
No ano passado, cerca de 40.000 parisienses puderam votar seus projetos preferidos. Em 2015, o projeto entrou numa nova fase: a de propor e debater as ideias e também votá-las. O processo de consultas e discussões ficará aberto até 15 de março, ou seja, por 60 dias. As propostas podem ser da escala local [uma rua] até a cidade inteira.
De forma alguma Paris está inventando a roda ou saindo na vanguarda*, mas há, pelo menos, um aspecto que precisa ser levado em consideração para mostrar o quanto essa iniciativa é positiva: o orçamento. Até 2020, serão investidos cerca de 480 milhões de euros nesse projeto. Isso equivale a 5% do orçamento total de Paris nesse período.
*A prefeitura de Porto Alegre tem o site http://www.portoalegre.cc/ que é um “espaço de radicalização da democracia, onde você tem voz e vez para discutir a cidade, mostrando o que ela tem de bom e o que precisa ser melhorado.”
* A prefeitura de Belo Horizonte, historicamente, teve processos muito ricos de envolvimento social no OP (Orçamento Participativo). Hoje em dia, tanto o OP perdeu tanto em orçamento quanto em participativo.
Até o momento (15/01), foram feitas 192 propostas e há 595 pessoas inscritas para receberam as atualizações do programa. Como dizem por aqui: C’est super [é incrível].
Um exemplo de proposta que votei: rack para bicicleta nos ônibus. Em cima, o nome do programa. Embaixo, o nome da proposta “Porte vélo sur les bus“.
Nessa parte: o objetivo da ideia, a descrição da proposta, a situação atual da proposta [diagnóstico] e uma indagação se o projeto foi experimentado em outro local.
Aqui, o número de apoios da proposta, um espaço para apoiá-la, o número de comentários e os comentários e a parte para cada um comentar o que quiser. Embaixo, as formas de compartilhar e as possibilidades de imprimir e enviar para alguém por email.
Abaixo, a resposta da prefeitura de Paris ao autor da proposta: “Nós transmitiremos a ideia à RATP” [gestora dos ônibus em Paris].
Sobre essa ideia em específico, é possível que ela aconteça em breve, mas não por conta, somente, da consulta. Na última terça-feira, 13/01, participei de uma reunião de de um comitê estratégico que discute assuntos pontuais sobre o uso da bicicleta na cidade. Um dos temas apresentados pela prefeitura é a possibilidade de Paris implementar estes racks em algumas linhas locais de ônibus e no tramaway. Os ciclistas que estavam presentes à reunião (inclusive eu) apoiaram a ideia.
Qualquer cidade do mundo que queira ser justa democrática e sustentável precisa, inicialmente, de ter cidadãos discutindo o que eles querem para si. Ou seja, uma cidade de pessoas e para elas.
Texto inicialmente postado em Mobilize Europa.