Gostou da afirmação? Claro que sim. Todos nós somos diversos e todos nós temos o direito de nos divertir!
Vou contar uma historinha pra você. Eu sempre fui uma pessoa alegrinha, sempre gostei de viajar, visitar lugares que me trazem cultura e encantamento, cinemas, teatros, museus, bater papo com boa companhia, pular carnaval, enfim, passear é comigo mesma. Mas a esclerose múltipla chegou e aos poucos foi comprometendo esse pedacinho. Veja bem: comprometendo, mas não eliminando. O que era muito fácil e eu nem pensava quando fazia, passou a ter um outro olhar. Um olhar mais exigente, aguçado, efetivo e sabe por quê? Nem em sonho eu iria parar o que eu queria fazer.
No início, ganhei um gingado bonito no jeito de andar, logo mais andava com mais dificuldade, cansava mais e cada vez mais percorria distâncias menores, depois ganhei uma bengala. Antes do andador, descobri a scooter e, tenho que confessar, foi A DESCOBERTA da minha vida.
Vale até contar: já havia estado em NY outras vezes, mas a minha limitação já gritava um pouquinho e conhecia aquele monte de lugar bacana, mas não aproveitava como deveria. Sempre visitava muito rapidamente um museu, via a Estátua da Liberdade somente da balsa, a 5º Avenida eu conhecia apenas alguns quarteirões… No Central Park, por exemplo, não chegava nunca ao centro, somente nas beiradas próximo às ruas. Pois, se entrasse lá no meio como sempre imaginava, não conseguiria voltar. Era bem “frustrante”, mas engolia seco a minha vontade de ir pro meio, pois sabia do meu limite. Até que soube que era um bom negócio alugar uma scooter.
Em uma das minhas viagens a NY, ainda estava com dúvidas, mas aluguei e assim que cheguei na grande maçã, a scooter já me esperava. Subi, aprendi a guiar e nunca mais desci dela. “A ilha de Manhattan ficou pequena pra mim”. Ah, o Central Park, virei de ponta cabeça. Show! Não tive dúvida, no ano seguinte comprei a minha scooter. A Julinha, minha fiel escudeira. E é em cima dela que eu vou para todos os cantos, cheia de alegria, porque faço exatamente tudo o que eu quero fazer. Claro que me preocupo com a acessibilidade do local que visito. Mas isto é básico: se tem acessibilidade, tudo é mais fácil, mais gostoso e me sinto abraçada pelo lugar, ou espaço, ou casa, mas se mão tem, não deixo de ir.
Com certeza será mais difícil e terá outro sabor, mas eu vou e conto no Milalá. Já são mais de 25 anos compartilhando diferenças e semelhanças. Eu estou onde você está, portanto a minha afirmativa lá em cima faz todo o sentido, certo?